Powered By Blogger

terça-feira, 14 de junho de 2011

FEMINISMO: DOS ANOS 60 AOS DIAS UTAIS

 FEMINISMO ANOS 60 AOS DIAS ATUAIS

O movimento que pretendeu igualar mulheres e homens em todos os sentidos está numa encruzilhada e pouco significa para as novas gerações.

Anúncios com temática feminina publicados em revistas de 1957 a 2006: da imagem da perfeita dona-de-casa à da mulher segura de si:



"Nós não podemos acabar com as desigualdades entre homens e mulheres sem antes acabar com o casamento."
Robin Morgan
FEMINISTA AMERICANA




"Nenhuma mulher consegue um orgasmo ao encerar o chão da cozinha."

Betty Friedan
ESCRITORA AMERICANA


"Casamento é o destino tradicionalmente oferecido às mulheres pela sociedade. Também é verdade que a maioria delas é casada, ou já foi, ou planeja ser, ou sofre por não ser."
Simone de Beauvoir
ESCRITORA FRANCESA


O movimento feminista, esvaziado após a conquista do direito de voto pleiteado por nossas antepassadas em fins do século XIX e começos do século XX, emergiu após a Segunda Guerra Mundial com forma e conteúdo inteiramente novos e ganhou impulso extraordinário nos anos 60. O sinal de partida foi dado pela escritora francesa Simone de Bauvoir com o seu livro O Segundo Sexo. Ele revolucionou profundamente a análise feminista da questão da mulher e propões soluções radicais para o conflito entre os séculos. Todo o feminismo moderno teve origem nesse livro. Nesta obra, Simone de Bauvoir afirma vigorosamente sua convicção de que não é a natureza que limita os papéis femininos, mas um conjunto de preconceitos, costumes e leis arcaicas, de que as mulheres em geral são mais ou menos cúmplices. Por isso ela apela para o sentido de dignidade das mulheres, a que eliminem a subordinação de que são as vítimas, a que não mais se iludam pensando encontrar – graças ao casamento – seu conforto e sua integração social. Na luta pela libertação da mulher que entrou em fase de grande ascensão nos anos 60, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França e em inúmeros países ocidentais, surgiu uma nova geração de mulheres, nascidas entre 1935 e 1945. Elas, diferentemente de suas antecessoras, não haviam sofrido o desgaste penoso das lutas antifascistas ou anti-colonialistas; e em conjunto possuíam um nível de instrução superior ao de suas mães. Muitas entre elas haviam cursado junto com os homens universidades e escolas superiores de todo tipo. Nos Estados Unidos em 1966, Betty Friedan fundou o NOW (National Organization of Women) depois de ter despertado três anos antes, com o seu livro Feminine Mystique (A Mística da Mulher) os sentimentos feministas das norte-americanas, ao descrever o cotidiano amargo das mulheres que residem nos subúrbios. Em 1967, do NOW saíram às mulheres solteiras e jovens para criar as primeiras bases de um movimento mais radical, o Women Liberation Movemente (Movimento de Libertação da Mulher). Esse novo momento agiu junto aos poderes públicos, junto ao Governo Federal, governos estaduais, meios de comunicação, cadeias de jornais e de televisão, universidades, para mudar a imagem sexista sobre as mulheres, para abolir as discriminações no emprego, nos salários, para obterem o direito ao aborto etc. Surgiu uma variada “literatura feminista” (jornais, livros, artigos, pesquisas, editoras etc.) como forma de luta destinada a encorajar o combate das feministas e denunciar o sexismo onde quer que ele se apresente.Mesmo a mais emancipada, independente e bem resolvida das mulheres ainda se vê mergulhada na burocracia cotidiana do lar. É a velha história: depois de um dia inteiro de trabalho, é preciso lidar com uma rotina muito parecida com a das donas-de-casa do passado: dar orientações sobre refeições, lembrar que é preciso trocar a lâmpada da geladeira, marcar o médico das crianças ou dar aumento à empregada. Mesmo que se tenha um marido do tipo participante e engajado, a dupla jornada ainda é uma realidade para a maioria das mulheres. Quatro décadas depois de o movimento feminista ter fincado raízes irreversíveis no que diz respeito à evolução da condição feminina, as mulheres enfrentam situações paradoxais. Indaga Eni Samara, feminista, diretora do Museu do Ipiranga e professora do curso de pós-graduação de história na Universidade de São Paulo: "Eu ganho dinheiro, sou bem resolvida, me considero feminista. O que explica que eu queira fazer a lista do supermercado?" A partir dessas situações elementares, pode-se concluir que o feminismo – tal como foi desenhado pelas militantes do movimento na década de 60 – ou está enterrado ou se perdeu no caminho. Mas a questão não é tão simples. Apesar de ter sido um dos mais importantes movimentos sociais do século XX, o feminismo possui semelhanças com qualquer outra revolução que tenha partido de ações radicais – sem se dar conta da complexidade das relações humanas envolvidas no processo. Isso significa que, na teoria, pregar a igualdade entre os sexos pode ser algo absolutamente viável. Na prática, descobriu-se que nem sempre o que a mulher deseja mesmo é ser igual. Tanto é que mesmo as principais representantes da causa acabaram por revelar, em algum momento, uma faceta, digamos, inesperada, independentemente das propostas que defendem. Só para ter uma pequena amostra do que houve nos últimos anos, a histórica feminista Marilena Chaui lançou um livro de receitas em companhia da mãe. A atriz Jane Fonda, engajadíssima nos anos 70, revelou recentemente que era subjugada pelo marido, que a obrigava a participar de orgias contra sua vontade. O mesmo ocorreu com a escritora americana Betty Friedan, cujo livro A Mística Feminina, de 1963, demonstrou que o trabalho doméstico não traz realização para a mulher. Ela morreu em fevereiro passado. Poucos anos antes, revelou que apanhava do marido. É certo que o feminismo trouxe mudanças irreversíveis para o mercado de trabalho, o comportamento sexual e, obviamente, as relações pessoais. Não se tem notícia de uma revolução de costumes tão poderosa e efetiva na história ocidental. Pelo menos nos países desenvolvidos, as conquistas femininas foram reconhecidas tanto na esfera privada quanto na pública. Do direito ao voto à legitimação do divórcio, da entrada maciça nas universidades ao reconhecimento da competência no trabalho, os progressos são inegáveis. Isso parece banal hoje, mas tais idéias eram absolutamente revolucionárias num passado não muito distante. Se muitas mulheres do século XXI ditam as regras no escritório e fazem sexo sem culpa com quem bem entendem, elas têm o que agradecer às feministas barulhentas dos anos 60. O problema é que as idéias revolucionárias parecem ter se enroscado na busca de soluções para questões que, em um primeiro momento, aparentemente dependiam apenas das atitudes individuais. Na prática, ninguém impede uma mulher de mergulhar completamente na carreira ou a obriga a ser responsável pela administração da casa. No entanto, é nesse âmbito de decisão, o que parece mais simples, que as coisas se complicam. Não há nada mais previsível do que o comportamento das multidões; e nada mais inesperado do que as reações do indivíduo. "O feminismo trouxe algumas idéias erradas, como o desejo de reproduzir o modelo masculino, como se todas estivessem dispostas a isso", diz Silvia Pimentel, do Comitê pela Eliminação da Discriminação contra a Mulher (Cedaw) das Nações Unidas e professora de direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Hoje se sabe que era bobagem as mulheres quererem se tornar homens e se coloca um novo dilema: como vão continuar sendo mulheres e combinando todas as conquistas do passado recente com os impulsos da maternidade, por exemplo? As reflexões contemporâneas sobre a condição da mulher na sociedade – pelo menos nos países democráticos e nos que superaram índices mínimos de miséria – giram em torno da convivência doméstica, a trinca carreira-maternidade-matrimônio, e do fenômeno moderno da harmonização entre a vaidade e a competência profissional. A grande massa feminina parece estar muito mais interessada em lutar contra a balança e as rugas do que contra desigualdades ainda presentes e alardeadas desde a época das feministas históricas. Apesar de as mulheres ainda terem de se submeter ao aborto ilegal, a ganhar menos do que os homens, à injusta divisão das tarefas domésticas e à terrível violência no lar, resquícios de uma mentalidade ultrapassada, essas bandeiras não parecem fazer parte da agenda feminina atual. O que deu errado? Por que o feminismo ou outro movimento ainda não conseguiu tocar nesses pontos da vida da mulher? No centro das questões que afligem o movimento pós-feminista do século XXI, nada surge tão forte quanto o velho tema do casamento. Ele ainda é, ao que tudo indica, o grande nó da questão. "As mulheres devem reconhecer que a família é em 2005 o que o ambiente de trabalho era em 1964 e o voto, em 1920", escreveu a advogada Linda Hirshman, 62 anos, uma professora aposentada que está no centro de um acirrado debate sobre a condição feminina nos Estados Unidos. Segundo ela, de todos os erros cometidos pelo feminismo, o mais grave foi a incapacidade de mudar a instituição que estaria no centro de toda a tragédia feminina. Da forma como está posto, de acordo com a especialista, o casamento é um empecilho para que as mulheres atinjam a igualdade total de salários, as mesmas oportunidades de ascensão profissional e a divisão com os homens da carga de trabalho e das responsabilidades na administração da casa e na educação dos filhos. De acordo com sua teoria, a infelicidade das mulheres reside na obrigação de cuidar da casa e dos filhos e dividir a vida familiar com o trabalho. Para a escritora, esse peso não é compartilhado com os homens, que continuam a desfrutar a condição vantajosa de apenas ir de casa para o escritório e vice-versa, sem se sentir obrigados a esquentar o jantar ou pôr a mesa. Quando o fazem, aliás, não são tratados como se cumprissem uma obrigação, apenas. Parecem fazer um favor. Ao que tudo indica, a solução para esse tipo de problema estava entre as quatro paredes do lar. Mas há quem discorde. A socióloga Rosiska Darcy de Oliveira, fundadora do Centro de Liderança da Mulher (Celim), tem uma tese segundo a qual esse dilema não é solucionável no âmbito das relações entre homens e mulheres. A saída, ela diz, seria as empresas reduzirem a jornada de ambos, homens e mulheres, para que juntos, então, eles tivessem tempo de cuidar dos afazeres domésticos. Segundo Rosiska, a vida privada continuou estruturada, em termos de emprego de tempo e responsabilidades, como se as mulheres ainda vivessem como suas avós, ou seja, sem trabalhar. Autora do ensaio Marianismo: a Outra Face do Machismo na América Latina, a socióloga americana Evelyn Stevens foi além. Há três décadas ela escreveu que, na verdade, as mulheres, sobretudo na América Latina, têm muita dificuldade em abrir mão do controle da casa. Seja qual for a razão pessoal pela qual as mulheres continuam a se desdobrar em casa, o que os analistas do assunto afirmam é que é preciso romper socialmente essa dependência. Sem mexer no papel tradicional que a mulher exerce no casamento, pregam esses estudiosos, elas tendem a continuar em desvantagem eterna em relação aos homens, sobretudo no campo profissional. É verdade que, nos últimos anos, a diferença salarial diminuiu, assim como se abriram muitos cargos de chefia para as mulheres. Matematicamente, porém, a distância ainda é bem sólida. Nos Estados Unidos, elas ganham 25% a menos do que os homens na mesma atividade profissional. No Brasil, 30%. Por mais contraditório que possa parecer, a conquista do mercado de trabalho e a abertura de carreiras possíveis para as mulheres podem ter despertado um lado obscuro da personalidade delas. O clamor da multidão também afetou aqui o lado individual de cada um. É a análise da escritora inglesa Alison Wolf, que, em um artigo publicado recentemente na revista inglesa Prospect, alertou para conseqüências perversas do feminismo. Segundo ela, a idéia incessantemente martelada de que filhos atrapalham a carreira e as finanças da família está contribuindo para o surgimento de uma geração obcecada por sucesso e dinheiro. O resultado é um certo individualismo exacerbado, em que o que interessa sou eu, aqui e agora. Nesse sentido, de acordo com a teoria de Alison, algumas das chamadas mulheres bem-sucedidas estão perdendo seu espírito altruísta. "Elas preferem ganhar dinheiro a fazer trabalhos voluntários ou a se dedicar à família", escreveu. "Também não se sentem responsáveis por cuidar dos mais velhos e dos doentes, acreditando que esse trabalho deve ser feito por instituições." Pode parecer uma posição extremamente machista, mas o que Alison Wolf quer dizer é mais profundo. Ela teme a derrocada do que chama de sisterhood, o sentimento fraternal que unia, por afinidade ideológica, mulheres do mundo inteiro. Na opinião da escritora, a cumplicidade feminina desapareceu porque mulheres de diferentes classes sociais não têm mais as mesmas experiências de vida. As ricas trabalham fora, deixam os filhos com a babá, fazem academia, colocam silicone nos seios e tocam a vida. Às pobres fica o desafio de lidar com uma penca de filhos e o marido muitas vezes violento e alcoólatra. Outro efeito colateral do feminismo dos anos 60 foi uma certa perda de identidade das mulheres. À medida que buscavam espaço igual ao dos homens, elas começaram a reproduzir posturas tipicamente masculinas. Isso mudou. Se antes a idéia era abafar a sexualidade, o que se vê hoje é a reação contrária: uma superexposição da sexualidade, uma ânsia de ser jovem, bonita e desejável. Surgiu recentemente até um termo para definir mulheres que se comportam sexualmente como homens: "predadoras". Assim são chamadas as que agem como machistas de antigamente, contabilizando como feitos dignos de menção pública suas aventuras amorosas. Um dos maiores desafios do pós-feminismo é encontrar meios de enfrentar o padrão estético imposto pela sociedade. Essa pressão gera uma tremenda crise de identidade. Segundo uma pesquisa realizada no início do ano pelo site inglês tescodiets.com, de cada vinte mulheres entrevistadas, dezenove disseram que preferem ser magras a inteligentes. Conforme o estudo, uma em cada três mulheres pesquisadas admite gastar mais tempo pensando no peso corporal do que no trabalho, nas finanças ou na família. Há quem chame isso de terrorismo estético. É o desejo de manter uma aparência sedutora que explica por que as clínicas de cirurgia plástica vivem lotadas. Eis, portanto, um novo e tremendo desafio para o pós-feminismo: conquistar o direito de envelhecer com tranqüilidade, tendo uma relação menos neurótica com o amadurecimento do corpo e descobrindo maneiras melhores de lidar com a vida sexual após os 60 anos. Para atingir esses objetivos, será necessária uma outra grande revolução de comportamento, quase do porte do que foi o feminismo para uma geração engajada e politizada de quarenta anos atrás. Em blogs na internet, a nova geração do feminismo escreve avidamente sobre sexo, moda e beleza. Elas fazem parte do que alguns chamam de Terceira Onda do Feminismo, têm entre 15 e 40 anos e acreditam que ser feminista é sentir prazer no sexo sem compromisso com meninos e meninas e comprar sapatos modernos. "Infelizmente, a batalha pelo direito ao aborto é a única bandeira do feminismo que permanece viva fora do Oriente Médio. O movimento, principalmente nos Estados Unidos, acabou reduzido à luta da mulher para não ter de ser mãe", lamenta a escritora Phyllis Chesler, autora do best-seller Letters to a Young Feminist (Cartas a uma Jovem Feminista). No Brasil não é diferente. Os ícones da cultura pop que falam às mulheres sobrevivem à superfície: as donas-de-casa descompensadas da série Desperate Housewives ou mesmo peças de teatro que satirizam as solteiras, como o besteirol Os Homens São de Marte... E É para Lá que Eu Vou, sucesso de público em todo o Brasil.






Nenhum comentário:

Postar um comentário